O acesso à internet no Brasil tem se expandido de maneira impressionante nas últimas duas décadas, mas ainda reflete profundas desigualdades sociais e regionais. Embora o número de lares conectados à internet tenha aumentado significativamente, saindo de apenas 13% em 2005 para 85% em 2024, a qualidade do acesso permanece desigual. Essa disparidade não é apenas uma questão de infraestrutura, mas também de inclusão social, afetando principalmente as regiões mais periféricas do país. A internet, que deveria ser uma ferramenta de democratização do conhecimento e da informação, ainda reproduz as desigualdades existentes, sendo um reflexo das diversas camadas sociais que lutam para garantir um acesso igualitário à rede.
A pesquisa TIC Domicílios 2024, realizada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.Br), revela que, embora haja uma ampliação no número de conexões, a qualidade e a velocidade da internet são extremamente variáveis. Isso se traduz diretamente na capacidade de um cidadão acessar serviços essenciais, como educação, saúde e cultura, de forma eficaz. Em áreas rurais e em comunidades mais distantes dos grandes centros urbanos, a internet ainda é escassa ou de qualidade inferior, o que compromete a plena participação da população no mundo digital. Essa realidade escancara a urgência de políticas públicas que possam reduzir essas desigualdades e promover uma inclusão digital de fato.
Uma das grandes questões que surgem com o aumento do acesso à internet é a desigualdade nas condições de uso. Mesmo em lares conectados, muitos enfrentam dificuldades devido ao alto custo dos serviços, que ainda são inacessíveis para uma parte significativa da população. Além disso, a falta de qualificação digital impede que muitas pessoas tirem pleno proveito das oportunidades que a internet oferece. Por isso, é imprescindível que o Brasil invista em programas de formação e capacitação, para que todos os cidadãos possam utilizar a internet não apenas para consumir conteúdos, mas também para gerar e compartilhar conhecimento, ampliando, assim, suas possibilidades de crescimento.
Outro dado importante da pesquisa revela que a distribuição do acesso à internet no Brasil é desigual até entre as diferentes classes sociais. Enquanto a grande maioria das famílias de classe média e alta tem acesso à internet de alta qualidade, grande parte da população de classe baixa ainda depende de conexões instáveis e lentas, que dificultam a realização de tarefas simples como o trabalho remoto ou o acompanhamento de aulas online. Isso se reflete diretamente na desigualdade educacional, onde estudantes das classes mais baixas encontram dificuldades para se conectar com os conteúdos educacionais oferecidos na web, prejudicando seu aprendizado e seu desenvolvimento.
O acesso à internet no Brasil não é apenas uma questão de infraestrutura tecnológica, mas também de políticas públicas eficazes. A universalização do acesso digital exige uma ação coordenada entre o governo federal, os governos estaduais e municipais, as operadoras de telecomunicações e a sociedade civil. É necessário criar um ambiente regulatório que incentive a expansão de redes de internet de alta qualidade, com foco em áreas carentes. Além disso, é preciso que haja um compromisso com a redução dos custos, tornando o acesso à internet mais acessível para as camadas mais pobres da população.
A implementação de políticas públicas para promover a inclusão digital no Brasil é um passo crucial para combater as desigualdades sociais. A internet é uma ferramenta poderosa que, quando utilizada corretamente, pode contribuir para a redução das disparidades no acesso à educação, à saúde e ao mercado de trabalho. No entanto, isso só será possível se houver investimentos significativos em infraestrutura digital e programas de capacitação, além da criação de mecanismos que garantam o acesso à internet a preços mais baixos e com qualidade adequada para toda a população.
O Brasil já avançou consideravelmente no que diz respeito ao número de residências conectadas, mas ainda há um longo caminho a percorrer. A desigualdade digital, embora tenha diminuído ao longo dos anos, ainda é um obstáculo significativo para o pleno desenvolvimento do país. Isso significa que, para garantir um acesso à internet mais igualitário, é necessário um esforço conjunto para melhorar a qualidade das conexões e reduzir os custos associados ao serviço. A universalização do acesso à internet não pode ser vista como uma meta distante, mas como um compromisso urgente com a inclusão social e o desenvolvimento de todas as regiões do Brasil.
Por fim, a questão do acesso à internet no Brasil deve ser abordada como um problema complexo, que exige soluções inovadoras e que envolvam todos os setores da sociedade. As políticas públicas devem ser mais do que apenas iniciativas isoladas, precisam ser parte de um plano nacional para a transformação digital. Somente assim será possível garantir que o acesso à internet se torne uma realidade acessível para todos, independentemente de sua classe social ou região, permitindo que todos tenham as mesmas oportunidades de crescimento e desenvolvimento em um mundo cada vez mais digitalizado.
Autor: Boris Kolesnikov